Agência FAPESP – Mesmo que todos os participantes saibam se comunicar por meio da Língua Brasileira de Sinais (Libras), não há nenhuma aula expositiva durante o curso de extensão para alunos e professores com deficiência auditiva oferecido pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em parceria com o Instituto Nacional de Surdos (Ines).
As aulas se estendem, em média, por duas semanas e têm caráter construtivista, em que os alunos aprendem determinado tema por meio de experiências científicas em laboratório. “Medicamentos e câncer” é o tema da edição desta semana nos laboratórios do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ.
“Os estudantes são induzidos a responder perguntas que eles mesmos formulam, com uma abordagem absolutamente experimental”, disse Sandra Mascarenhas, coordenadora do projeto na UFRJ, à Agência FAPESP. “Nossa proposta é mostrar que as pessoas aprendem melhor quando constroem seus próprios conhecimentos.”
Para sanar as dúvidas, os alunos utilizam modelos biológicos reais. “Em um dos experimentos, são comparadas células tumorais com células saudáveis para verificar os efeitos de alguns medicamentos no tratamento da doença”, explicou Sandra. Avaliações escritas são feitas antes, durante e depois das atividades.
Promover a inclusão social dos alunos e despertar novas vocações científicas são objetivos da iniciativa. Sandra explica que, devido à boa repercussão do projeto, a possibilidade de criação de um curso técnico voltado para deficientes auditivos da área da saúde, em colaboração com o Ines, está sendo discutida pela comunidade acadêmica da UFRJ.
“Estudos indicam que a percepção visual e o nível de concentração dos deficientes auditivos são melhores do que os dos indivíduos que ouvem. Nosso curso de extensão mostra que é possível incluir os deficientes no sistema nacional de ciência e tecnologia, criando novas oportunidades de aprendizagem e de ensino”, disse.
Desde a criação do projeto, em 2005, foram realizadas quatro edições do curso, com temas como “Sistema imunológico” ou “Doenças sexualmente transmissíveis”, com destaque para o HIV-Aids. Cerca de cem pessoas já participaram. No final de cada edição, dois alunos são selecionados para um estágio de seis meses nos laboratórios da UFRJ em que são desenvolvidos projetos de pesquisa básica e aplicada na área de saúde.
O projeto, idealizado por Vivian Rumjanek, coordenadora do Núcleo de Ensino do Programa de Oncobiologia da UFRJ, é apoiado pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
Por Thiago Romero
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