Prof. Ricardo Bento é Candidato a Presidente da ABORL-CCF
01/10/2007
Defesa Profissional do Otorrino é um dos Focos de Atenção
Para começar, gostaria de saber seu currículo?

Os pontos básicos de meu currículo:

- Professor Titular de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
- Chefe do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital da Clínicas da FMUSP
- Ex- Presidente da Sociedade Brasileira de Otologia
- Membro do Comitê Executivo da IFOS (International Federation of Otolaryngological Society)
- Secretário Geral do Congresso Mundial de Otorrinolaringologia
- Membro do Collegium Otorhinolaryngologicum Amicitae Sacrum
- Membro da Academia Paulista de Medicina
- Diretor de Políticas Públicas da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial.
- Candidato a Presidente da Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico Facial.

Como esta a saúde hoje no Brasil?

A Constituição Brasileira garante em seu texto saúde pública universal para todos os brasileiros. No entanto esta garantia de saúde universal e de boa qualidade está longe de acontecer no Brasil em termos de saúde pública. Em que se pese existir alguns hospitais públicos de excelência (poucos) a maior parte da saúde no Brasil não tem boa qualidade e faltam recursos. Se compararmos os recursos para a saúde no Brasil com países da Europa por exemplo, se investe 17 vezes menos na média. Se compararmos com países próximos como a Argentina por exemplo, se investe 6 vezes menos. Os recursos vindo dos descontos dos ganhos dos trabalhadores seriam suficientes, o problema maior é de gestão de todo o processo.
Do outro lado os planos de saúde que representam atendimento a aproximadamente 25 a 30% da população em sua grande maioria são de má qualidade e só cobrem doenças de baixa complexidade. Quando se tem uma doença complexa o plano de saúde normalmente faz tudo para não dar cobertura de qualidade. Muitas vezes estes pacientes acabam migrando então para o SUS lotando mais ainda o sistema.


O Sr. acredita em melhora no sistema ?

Não visualizo a curto prazo nenhuma mudança neste quadro, uma vez que a prática da boa medicina em geral tem ficado mais cara pelos inúmeros métodos de diagnóstico e tratamento que elevam o custo da saúde Isto vale tanto para a saúde pública quanto para os convênios. Para se praticar hoje uma medicina de qualidade é extremamente caro, com isso os convênios para não subir o custo mensal de contribuição dos associados diminui a remuneração para os profissionais de saúde, para números ridículos o que faz com que a qualidade de atendimento caia pela insatisfação dos profissionais envolvidos.
Acredito que o sistema de medicina privada que funciona é do seguro saúde, isto é o segurado contrata com a empresa seguradora o montante total que poderá ser coberto por ano. Assim ele terá reembolso das consultas, exames e tratamentos até o montante contratado. Acho também que as pessoas que tem planos de saúde ou seguros, não deveriam poder usar o SUS, pois como eles tem alternativa aliviaria para aquela camada mais pobre da população que só tem o SUS para seus tratamentos médicos.
No mínimo o governo deveria cobrar do convênio pelo tratamento feito em pacientes que são associados.

Como o Sr. vê o alto numero de universidades de medicina e a qualidade dos formandos?

Este problema é gravíssimo. No Brasil há um excessivo numero de faculdades de medicina em relação à população se compararmos com qualquer país do mundo. Há igualmente faculdades com qualidade baixíssima que continua formando médicos com um preparo insuficiente.
De um lado temos isso, do outro temos também que ter o princípio da igualdade em que não se pode negar o conhecimento a todos que querem fazer medicina. O que pode ser feito é ou um exame criterioso como é feito pela Ordem dos Advogados e com isso só poderá exercer medicina quem passar no exame, ou esta seleção seja feita durante a faculdade com um currículo pesado e disciplinas nas quais as avaliações são realmente para saber se o aluno tem conhecimento pleno das disciplinas. O que se vê no Brasil é que uma vez dentro da faculdade de medicina raramente o aluno não consegue se formar. Isto não acontece na grande maioria dos países.

O Sr. vai ser empoçado presidente da sociedade brasileira de Otorrino, como essas sociedades podem atuar de forma melhorar a qualidade na saúde, tanto para o medico com para o paciente?

Uma Associação é representante de classe, portanto ela trabalha em várias linhas:
1.Melhora de condições de trabalho para os otorrinolaringologistas.
2.Melhora de remuneração dos convênios para os profissionais
3.Defesa profissional na invasão por outros profissionais de saúde fazendo com que a lei do ato médico seja cumprida.
4.O envolvimento dos otorrinolaringologistas no atendimento do serviço publico de saúde responsável pelo atendimento de 75% do povo brasileiro.
5.Constante melhora de preparação profissional organizando cursos, congressos, monitorização dos serviços de estágios e residência médica no preparo do jovem médico e na atualização dos especialistas.

Na área tecnológica hoje somos um pais avançado? Em qual área e qual ainda estamos melhorando?

O Brasil a exemplo sua característica de um país com grandes diferenças regionais, sociais e econômicas, também apresenta esta característica na medicina. Há ilhas de excelência em alguns centros e alguns hospitais comparado aos melhores centros do mundo com alta tecnologia oferecendo medicina de alto nível e grande parte do Brasil carece de bom atendimento médico avançado principalmente para as doenças de alta complexidade. O desafio é poder oferecer para todos a possibilidade de diagnóstico e tratamento avançado porem para se ter uma medicina de ponta o custo é alto e a sociedade deve decidir por este investimento em saúde que as vezes não é valorizado pelos órgãos governamentais que necessitam de gestão eficiente para economia. Em suma, recursos existem e precisam ser aplicados com mais eficiência.

A USP e referencia em medicina e isto pode ser acessível a cidades menores como o interior do Brasil?

O Hospital das Clinicas da FMUSP e o Hospital Universitário da USP atende pacientes de todo o Brasil porém sozinhos não podem resolver os problemas de todo o país. O HC é um hospital de referência terciária para doenças de alta complexidade e vem cumprindo este papel desde sua criação, com um alto investimento do Estado de São Paulo no sistema, pois só com recursos SUS seria impossível praticar medicina de ponta. O HU é um Hospital de referência secundária para doenças de média complexidade em uma região específica da Cidade de São Paulo, porém com uma medicina básica e preventiva de altíssimo nível. Alem disso estas Instituições são responsáveis pelo treinamento e aprimoramento de alunos de medicina, fonoaudiologia, psicologia, enfermagem e outros profissionais da área de saúde e da formação de médicos de saúde da família até especialistas de alto nível. Milhares destes profissionais foram formados lá e hoje estão espalhados por todo o Brasil levando um atendimento de alto nível. Cada região, cada Estado e cada município tem que ter seu papel eficiente no sistema publico que o Brasil escolheu que é o SUS, decentralizado com gestão regional.

Noticias circulando sempre em telejornais sobre a deficiência dos convênios médicos, tanto remunera mal o profissional e também não atendem aos pacientes em sua totalidade. Em sua opinião como podemos reverter esse processo?

Em uma das perguntas anteriores, abordei este problema. É uma equação matemática baseada em um tripé:
1.A empresa de saúde (convenio ou seguro médico)
2.O médico, os hospitais e os laboratórios de exames
3.O conveniado ou associado.

Alguem tem que pagar a conta. Ninguém monta uma empresa para não ter lucro, se o custo aumenta (novas tecnologias, uso indiscriminado pelos associados, exames desnecessários pedidos pelos médicos e outros custos) ou você aumenta o custo para o conveniado ou diminui a remuneração do médico/hospitais/exames caindo a qualidade, pois a empresa não vai querer ter prejuízo. Na minha opinião só o sistema de seguro saúde pode resolver isso, o segurado escolhe um plano de gasto máximo anual para tudo, consultas, internações, cirurgias, exames, tratamentos etc... Obviamente quanto mais é este gasto máximo anual, mais caro é a adesão ao plano. O sistema passa ser universal, isto é o conveniado pode procurar o médico, o hospital ou o laboratório que quiser e terá o reembolso do seu gasto pelo convênio, quando chegar no máximo contratado não haverá mais reembolso. Com isso o conveniado escolhe o preço do médico que vai procurar, procura não procurar médicos desnecessariamente ou não fazer exames desnecessários pois senão vai "estourar" seu plano.

Para concluirmos quais são as novas expectativas de acordo com o governo federal para a medicina brasileira?

Não posso responder pelo governo federal, mas com certeza todo o governo tem boas intenções. No meu modo de ver e em palavras rápidas, creio que o importante é primeiro prevenção, medicina de saúde da família perto da população, sistema de referência para níveis de complexidade e principalmente muita gestão para boa aplicação do dinheiro público e controle de custos e de desvios.


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