A Clínica de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da USP, registra aumento da incidência de infecções provocadas pelo uso do piercing no nariz, orelha e língua. Foram atendidos 40 casos, nos últimos quatros anos. Desses, 80% resultaram em cirurgias reparadoras para a reconstituição da orelha e do nariz. Todos os pacientes eram adolescentes.
O alerta é do otorrinolaringologista Perboyre Lacerda Sampaio. Segundo o médico, a colocação da jóia no lóbulo da orelha pode provocar uma cicatrização anômala que cresce descontroladamente. Dependendo do caso, o paciente é submetido a várias cirurgias e tratamento com corticóide e radioterapia. Teve casos no HC em que a anomalia atingiu volumes de até meio quilo em cada orelha do paciente.
As complicações, enfatiza o médico, são mais freqüentes em povos mestiços, como os brasileiros. Daí a preocupação com o modismo que, a cada geração, tende a ganhar um maior número de adeptos que certamente não estarão livres de doenças.
Outro problema grave é a colocação da jóia na parede lateral do nariz ou na parte superior da orelha. "Um pequeno trauma contra os lençóis durante o sono ou na prática de esporte poderá facilitar a penetração dos germes comuns da pele na cartilagem (pelo furo) e desenvolver um processo infeccioso que os antibióticos não conseguem frear. Neste caso, o tecido cartilaginoso da asa do nariz ou da orelha é destruído e as deformidades raramente são satisfatórias com a correção cirúrgica".
O risco do uso do piercing na língua é atribuído a formação rápida de abscesso, com edema que pode chegar a obstruir a respiração e causar a morte por sufocação, caso haja penetração de germes no seu interior. Apesar de raro, recentemente o Hospital das Clínicas atendeu um destes casos, onde a paciente teve que ser submetida à traqueostomia de urgência, enfatizou .
De acordo com o médico, não importa o tempo em que a pessoa usa o acessório e nem como foi feito. Mesmo se observando todos os cuidados com a higiene e assepsia, a ocorrência de um trauma no nariz, na língua ou na orelha será o suficiente para comprometer a saúde do usuário.
As más condições de higiene de muitos estabelecimentos que oferecem o serviço, aliadas a falta de educação formal dos profissionais que realizam os serviços, podem acelerar o processo com complicações pós-operatória das mais variadas.
Além disso, a discriminação e o preconceito, na maioria das vezes, geram problemas para aqueles que procuram entrar no mercado de trabalho, concluiu Perboyre.
Assessoria de Imprensa
Instituto Central do HC
Bete Subires
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